Por: Nestor W Neto
As campanhas de segurança são parte do calendário de praticamente todas as empresas.
Faixas coloridas, brindes, palestras, DDS temático… tudo muito bem-intencionado.
Mas, ainda assim, acidentes continuam acontecendo, e muitas campanhas acabam perdendo o impacto logo depois que terminam.
A pergunta é: por que isso acontece?
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Porque muitas campanhas de segurança falam “de cima pra baixo”
Grande parte das campanhas de segurança é pensada apenas pela liderança, sem envolver quem vive o risco no dia a dia.
O resultado? Uma mensagem bonita, mas distante da realidade dos trabalhadores.
Quando a comunicação é impositiva — “use EPI”, “cumpra as regras” —, o público tende a ouvir, mas não se engajar.
As pessoas obedecem por obrigação, e não por convicção.
Como fazer diferente:
Construa campanhas com os trabalhadores, não apenas para eles.
Pergunte o que os preocupa, envolva representantes das áreas na criação das ideias e use exemplos reais.
O sentimento de pertencimento é o primeiro passo para o engajamento.
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Porque a mensagem é genérica
Outro erro comum é criar campanhas que poderiam servir para qualquer empresa, frases prontas, sem conexão com o contexto específico.
Quando a mensagem não tem conexão com o chão de fábrica, ela se torna invisível.
Como fazer diferente:
Personalize o discurso.
Se o tema é “prevenção de quedas”, mostre fotos reais dos pontos críticos da empresa, conte histórias de quase acidentes, use linguagem do chão de fábrica.
A mensagem precisa soar familiar para ser lembrada.
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Porque há excesso de foco no comportamento, e pouco nas condições
É comum culpar o comportamento do trabalhador quando algo dá errado.
Mas uma campanha que só fala de “atenção” e “cuidado” não aborda o sistema que gera os riscos.
Como fazer diferente:
Equilibre a mensagem: mostre o papel da gestão, da liderança, das melhorias no ambiente. Quando o trabalhador percebe que a empresa também está fazendo a parte dela, ele se sente mais comprometido em fazer a dele.
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Porque a campanha termina, e o aprendizado também
Outro motivo de falha é que as campanhas têm começo, meio e fim.
Durante a SIPAT, por exemplo, há palestras, cartazes e atividades.
Mas na semana seguinte… tudo volta ao normal.
Como fazer diferente:
Transforme a campanha em parte de um processo contínuo.
Use os aprendizados como ponto de partida para o plano de ação do PGR, para novos indicadores de cultura ou para temas de DDS.
A mensagem precisa permanecer viva no dia a dia.
Conclusão: da obrigação à cultura
Campanhas de segurança falham quando são tratadas como eventos isolados.
Elas funcionam quando fazem parte de uma estratégia de melhoria da cultura de segurança. Quando a mensagem é construída junto com as pessoas, tem contexto, continuidade e gera aprendizado.
Mais do que falar de segurança, o desafio é fazer com que as pessoas sintam que segurança também é delas.
As pessoas só apoiam aquilo que ajudam a criar. Se quiser o coração do trabalhador é preciso envolvê-lo no processo. A cultura se constrói com participação, não com imposição.

