Leia o artigo e conheça quais tendências estão acontecendo no ramo de Saúde Ocupacional agora no segundo semestre de 2025.
Por: Dr. Sergio Cagno
Na área de Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho (SST), considerando as mudanças recentes, os movimentos do mercado e as pressões sociais e tecnológicas que moldam o setor, o segundo semestre de 2025 se apresenta como um período estratégico para consolidar avanços, corrigir rotas e preparar o setor de Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho (SST) para uma nova fase de integração, exigência regulatória e valorização social. Em meio a um cenário de transformações legais, tecnológicas e culturais, é necessário olhar além do cumprimento formal das normas e buscar uma gestão preventiva com foco em bem-estar, performance e sustentabilidade organizacional.
Saúde mental como centro das políticas de SST
Com a previsão de entrada em vigor da nova NR-1 em maio de 2026, que trará riscos psicossociais de forma expressa, o segundo semestre de 2025 deve ser marcado por uma transição cultural. Cada vez mais empresas estão sendo cobradas, interna e externamente, para reconhecer, monitorar e prevenir problemas de saúde mental relacionados ao trabalho, como burnout, ansiedade, depressão e assédio moral.
>> Como implementar a Saúde Mental no Trabalho?
Tendência: Implantação dos levantamentos de fatores de risco psicossocial, criação de programas internos de escuta ativa, fortalecimento de canais de denúncia, capacitação de lideranças para lidar com sofrimento psíquico, e parcerias com clínicas e plataformas especializadas em saúde emocional.
Transformação digital e integração de dados
O avanço do eSocial e o endurecimento das multas por não conformidade tornam inevitável a digitalização dos processos de SST. Softwares de gestão ocupacional (como o SOC), plataformas de controle de riscos, prontuários eletrônicos e integração de dados entre RH, SESMT e contabilidade serão cada vez mais adotados.
Reflexão: não basta digitalizar o que era feito em papel, é preciso redesenhar os processos para gerar inteligência. A integração entre os eventos S-2210, S-2220 e S-2240, por exemplo, pode ajudar a antecipar riscos, identificar falhas sistêmicas e ajustar políticas de prevenção em tempo real.
Valorização estratégica da área de SST nas organizações
Tradicionalmente vista como uma área operacional ou de conformidade, a Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho vem ganhando espaço no plano estratégico das empresas, especialmente diante da nova sensibilidade pública em torno do bem-estar no ambiente profissional.
Tendência: profissionais de SST cada vez mais envolvidos em comitês de ESG, cultura organizacional, clima e engajamento, além de ações integradas com marketing e comunicação interna. Empresas que investem em ambientes saudáveis tendem a ser percebidas como mais atrativas para talentos e investidores.
Cadeias de responsabilidade e fiscalização indireta
A nova NR-1 e demais normas já sinalizam um movimento importante: o aumento da responsabilidade solidária entre contratantes e contratadas em temas de segurança e saúde. Fiscalizações indiretas, auditorias cruzadas e exigências por parte de grandes empresas para que seus fornecedores comprovem conformidade devem se intensificar.
Reflexão: empresas menores que prestam serviços a grandes grupos precisarão se adequar, sob pena de perderem contratos. É o início de uma “cadeia de compliance em SST”.
Educação contínua e treinamentos com foco em comportamento
O novo olhar da legislação sobre capacitação por competência (em vez de apenas carga horária) reforça a importância de investir em educação continuada, treinamentos práticos e simulações realistas. A tendência é que os treinamentos deixem de ser eventos isolados e se tornem parte da cultura diária de segurança.
Tendência: uso de ferramentas interativas, realidade aumentada, gamificação e microlearning para melhorar a assimilação e retenção de conteúdos de segurança, além da personalização dos treinamentos conforme o perfil dos trabalhadores.
Fiscalização mais automatizada e menos tolerante
Com as mudanças recentes nas regras de multas do eSocial (Portaria MTE nº 1.131/2025), a fiscalização passa a ser mais objetiva, digital e automatizada. Isso tira margem de negociação e exige assertividade nas rotinas de envio de dados, especialmente para clínicas ocupacionais, profissionais autônomos e empresas com alta rotatividade.
Reflexão: manter a conformidade deixou de ser um diferencial para se tornar uma condição de sobrevivência no mercado formal.
SST no contexto da sustentabilidade (ESG)
A inserção da SST nos relatórios de ESG está crescendo. Segurança do trabalho e promoção da saúde são agora indicadores de responsabilidade social e governança, e empresas que negligenciam essa área sofrem riscos reputacionais e até bloqueios em licitações e investimentos.
>> SST e Sustentabilidade trabalham juntos para um futuro melhor
Tendência: ampliação do escopo da SST para abranger temas como ergonomia social, diversidade e inclusão, adaptação ao envelhecimento da força de trabalho, e impactos de mudanças climáticas sobre a saúde ocupacional (ex.: exposição ao calor, trabalho a céu aberto, poluição, eventos extremos).
Conclusão: do obrigatório ao estratégico
O segundo semestre de 2025 representa uma janela crítica para redefinir o papel da SST nas organizações. Mais do que cumprir normas, as empresas precisam se antecipar às exigências e atuar de forma integrada, inteligente e humanizada. Profissionais de SST que adotarem uma postura proativa e estratégica poderão liderar essa transformação, contribuindo não apenas para a segurança, mas para a competitividade e reputação de suas organizações.
>> O futuro da Medicina do Trabalho diante da transformação digital
Dr. Sergio Cagno
CREMESP 41.304
Médico do Trabalho – RQE MT 13.037